Algumas pessoas perguntam porque este site não aborda com mais frequência a gramática inglesa, como na maioria dos outros blogs. Devo lembrar que neste espaço os temas referentes ao idioma são livres e qualquer assunto pode ser abordado ou debatido. Ademais, temos, inclusive, seções para Grammar, Listening e Pronunciation, basta ir ao menu de acesso, no alto desta página.
Ao contrário de muita gente, inclusive experts no idioma, eu gosto de gramática, tanto a portuguesa quanto a inglesa. Mas pertenço a uma minoria, pois até mesmo entre os falantes da língua inglesa apenas uma pequena fração conhece todas as regras gramaticais.
Para muitos, estudar gramática, tentar entender regras complicadíssimas para depois esquecer minutos depois é muito chato, além de não ter nenhuma utilidade para o domínio do idioma. O importante é aprender a falar, ouvir e se comunicar.
Vamos por etapas.
Primeiro, a questão, em minha opinião, é a forma como se estuda a gramática. Desde crianças sabemos que o segredo não é decorar nada e sim entender determinado assunto. E não se aprende as coisas num só dia, são necessários força de vontade, interesse e constância. Tudo isso se consegue com muita leitura e audição. Estudando construções verbais dentro de um contexto a coisa fica muito fácil e interessante. Com o tempo você poderá organizar suas ideias e construir frases naturalmente, sem se preocupar com as regras. A prática traz a perfeição.
Segundo, concordo que Língua é causa e gramática é consequência, que as regras gramaticais são construídas a partir do fenômeno existente. Ou seja, como fazem as crianças em seus primeiros anos de vida, aprender a falar e a ouvir é o mais importante para se comunicar eficazmente. É importante para a pessoa não passar apertos na hora de transmitir a sua mensagem. A teoria não pode vir antes da prática.
Mas, convenhamos, quem deseja dominar qualquer idioma não pode apenas se contentar com isso. Não estou falando da linguagem coloquial, do papo entre amigos no bar, no namoro na Internet ou em um jogo de futebol. Estou me referindo a outras situações, inclusive profissionais, quando o uso correto do idioma é imprescindível.
Fere aos ouvidos, por exemplo, quando estamos assistindo a um programa esportivo de TV ou a uma transmissão esportiva e o locutor ou comentarista fere o idioma com frases como “Eu se consagro”.
E isso ocorre também na TV fechada. Para atender a um número maior de assinantes, justificando que quer falar a língua do povo, mas principalmente com o propósito de usar mão de obra barata, os donos dos canais nos obrigam a ouvir a uma enxurrada de ex-jogadores e pessoas sem maiores qualificações, sem o mínimo preparo, o mínimo conhecimento das regras do idioma, com vícios de linguagem, soltando “pérolas” sem o menor constrangimento. Mas não podemos culpar esses “profissionais” e sim quem os contrata, esquecendo que um veículo de comunicação tem papel social e pedagógico. Talvez por isso jornais estejam em crise, prestes a desaparecer, e o nível de nossa TV seja tão ruim.
Dito isso, vamos combinar o seguinte: vamos publicar sempre posts falando sobre as regras gramaticais. O próximo deve ser sobre Verb Tenses.
O QUE ELES DIZEM
A verdade é que o questionamento sobre a eficácia do estudo teórico da gramática nos velhos padrões, decorando regras, praticamente determinou o desaparecimento de seu ensino, colocando-o em segundo plano das salas de aula. Ou seja, a velha gramática não seria garantia para uma boa redação (no caso do inglês existem alunos que afirmam não gostar de gramática porque eles querem mesmo é ouvir a falar bem, não sendo necessário conhecer as regras gramaticais). É só pesquisar na internet e ver sites de professores de inglês que têm a mesma opinião, contestando métodos dos cursos do idioma.
Vejam abaixo duas opiniões de experts na língua inglesa e portuguesa, para uma ideia mais consistente sobre a necessidade de aprender ou não gramática. A primeira é de Leo Ricino, mestre em Comunicação e Letras, instrutor na Universidade Corporativa Ernst & Young e professor na Fecap – Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado, na Revista Portuguesa. A segunda é artigo de Ricardo Schutz, presidente da Associação Sul-Brasileira de Intercâmbio Educacional e Cultural – ASBI, mestrado em TESL (Teaching English as a Second Language) pela Arizona State University, monolingue até os 27 anos, assimilando o idioma inglês sem a interferência do estudo formal, em seu site English Made in Brasil.
A velha e boa gramática
No atual sistema de ensino brasileiro, a gramática é pincelada sem aprofundamento, conceituação ou contextualização. O resultado é um conhecimento raso da língua em todas as camadas da educação.
“Em rápida pesquisa, constata-se que a gramática, sim, aquela gramática básica de qualquer língua, continua a ser ensinada, a seu modo, em países como Alemanha, França, Inglaterra, Portugal, Espanha, Itália, Chile, dentre outros. Ela convive com outros ramos da comunicação, como a Linguística em suas várias modalidades, inclusive a Análise de Texto e de Discurso, a Literatura, etc.
Percebe-se também que o ensino da gramática, mais do que ela mesma, apesar do seu natural desenvolvimento e ampliação, ganhou nova roupagem, adaptou-se à evolução dos tempos. Ou seja, não há a menor lógica em se manter o ensino de gramática como se fazia há trinta, quarenta anos. Esse tipo antigo de ensino gramatical hoje seria rotulado de mera gramatiquice, muito embora naqueles tempos tirava-se muito proveito dele. É só verificar que as pessoas acima de sessenta a setenta anos que tenham se submentido ao ensino de outrora não apresentam grandes dificuldades com a escrita ou com a leitura.
No entanto, essa nova roupagem do ensino, essa adaptação aos novos tempos, no caso brasileiro, significa praticamente a eliminação da gramática do currículo escolar. Pincela-se aqui, pincela-se acolá algum elemento gramatical, jogado ao aluno aleatoriamente, sem sequência, sem respaldo, sem taxonomia, sem ênfase, isto é, de forma caótica, com o desinteresse típico de quem acha que aquilo não tem a menor importância, é assunto insignificante.
Cabe aqui uma pergunta: ensinada como é naqueles países acima citados e com bom proveito para seus cidadãos, por que está havendo esse absurdo e irresponsável abandono do ensino da gramática em nosso País?
Costumo dizer em minhas aulas no ensino superior, na Fecap e nos cursos que ministro em empresas sobre dificuldades gerais da Língua Portuguesa, que a maior e insuperável invenção da humanidade são as palavras escritas. E essa invenção nos distinguiu definitivamente dos demais animais e nos propulsionou inexoravelmente para o que hoje somos e o que vivemos. É só esticar os olhos para a Humanidade antes e depois da invenção da escrita e se constatará sua inigualável importância para nós. Insuperável, imbatível como invenção. Todas as demais invenções devem muito de sua consagração e confirmação à palavra escrita. Em contrapartida, palavra escrita, necessariamente, requer uma gramática, já que a escrita não tem, nem jamais terá, o nível de espontaneidade da fala. Precisa, pois, de certas normas.
Dito isso, ressalte-se que dói, dói muito, chegar a uma sala de aula de ensino fundamental, nas suas últimas séries, médio ou superior, perguntar para um aluno quantas orações há na frase tal, enfatizando-se que o número de orações é igual ao número de verbos, e ele perguntar:
– Professor, o que é verbo?
(http://linguaportuguesa.uol.com.br)
O QUE SIGNIFICA “APRENDER INGLÊS“?
Assim como você pode ser um bom motorista sem saber qual é a diferença entre um motor diesel e outro a gasolina, assim como conseguimos nos expressar bem em português sem sabermos o que é uma oração subordinada, você pode também aprender a falar línguas estrangeiras sem ter que estudá-las.
A expressão “aprender inglês” está tão batida e surrada, que já não tem um significado muito claro e não resiste a uma análise mesmo superficial.
- Se “aprender inglês” significa conhecer sua estrutura, saber formar frases interrogativas e negativas no seu caderno sem errar, decorar os verbos irregulares, algum vocabulário, e até transformar frases para a voz passiva, então você já aprendeu no 2° grau e não precisa mais se preocupar – basta rever a matéria e estará pronto para este novo século.
- Se “aprender inglês” significa memorizar frases e expressões de forma mecânica e repetitiva, terminar o Livro X do Cursinho Y, ou ter um certificado do Cursinho Z, muitos de vocês também já estão prontos.
- Entretanto, se “aprender inglês” significa falar com naturalidade, sentir-se à vontade na presença de estrangeiros, acompanhar filmes e as notícias da BBC ou da CNN, ter acesso a toda informação disponível na Internet, argumentar, defender seus pontos de vista, comprar e vender em inglês, construir laços de amizade ou namorar em inglês, funcionar como um ser humano normalmente funciona em sociedade, conhecer os costumes e as diferenças culturais, notar quando alguém fala com sotaque, então talvez você não esteja ainda pronto para este século.
No 1° caso acima, “aprender inglês” significa armazenar informações e conhecimento a respeito da estrutura gramatical da língua na sua forma escrita predominantemente.
No 2° caso, significa marchar no compasso de um plano didático predeterminado, memorizando vocabulário, frases e expressões de forma mecânica ou repetitiva em contextos fora da realidade do aluno. O pensamento continua a se estruturar nas formas da língua materna, e o esforço é todo dirigido a traduzir rapidamente. O aluno dificilmente alcançará espontaneidade na comunicação.
No 3° caso, significa desenvolver habilidade funcional. É o que a linguística moderna denomina de language acquisition – assimilação natural. É um processo equivalente ao de assimilação da língua materna pelas crianças. É reaprender a estruturar o pensamento, desta vez nas formas de uma nova língua. Usa-se mais os ouvidos do que os olhos e cada um desenvolve de acordo com seu próprio ritmo, num processo que produz habilidade prática, comunicação criativa, e não necessariamente conhecimento. É comportamento humano, fruto de convívio, de situações reais de interação em ambientes da cultura estrangeira. O aprendiz é protagonista e não espectador, e sua realidade faz parte do contexto em que a comunicação ocorre. O aprendizado é resultado de um processo de relacionamento que ocorre num plano pessoal-psicológico entre quem transmite e quem assimila e onde o foco principal é sempre o ato comunicativo e a língua-alvo apenas seu instrumento.
Portanto, quando pensamos em “aprender inglês” precisamos entender exatamente o que queremos para saber onde buscá-lo.
N |
1) Na infância, por fatores circunstanciais, você vive com sua família em país de língua estrangeira, frequentando escola e convivendo com crianças da mesma faixa etária e, ao longo de sua vida, mantém contato com a língua. É uma das formas mais perfeitas de aprendizado. |
2) Aos 17 ou 18 anos você participa de um programa de intercâmbio em país de língua inglesa, de preferência com duração de 10 meses. Em todos os ambientes em que convive (familiar, escolar, social) não há conterrâneos. É a outra forma mais perfeita de imersão e de aprendizado. | |
3) Assim que você conclui sua carreira acadêmica, participa de um programa de estágio remunerado para aperfeiçoamento profissional, em país de língua inglesa, de preferência com duração mínima de 6 meses. Nos ambientes que frequenta não há conterrâneos. | |
4) Em qualquer momento de sua carreira profissional, você participa de um programa de desenvolvimento profissional junto à matriz da empresa multinacional em que trabalha, em país de língua inglesa – obviamente, longe de conterrâneos. | |
5) A qualquer momento em sua vida (quanto antes melhor) você participa de um programa de ESL (intercâmbio para estudo de inglês) em país de língua inglesa. Quanto maior a duração do programa, tanto melhor. |
N B |
6) Quando jovem, você tem a felicidade de fazer o ensino fundamental e médio numa escola internacional como as encontradas nos grandes centros, onde cerca da metade das disciplinas são ministradas em inglês, por professores falantes nativos. Tais escolas oferecem um ambiente de language acquisition quase perfeito, uma vez que o inglês se constitui não em objeto de estudo, mas sim em instrumento de estudo. |
7) Você trabalha numa empresa multinacional e, em seu ambiente de trabalho (por exemplo: departamento de exportação), fala-se predominantemente inglês. | |
8 ) Você participa de um grupo pequeno de conversação de inglês com um instrutor com plena competência linguística e cultural, hábil em construir relacionamentos e improvisar atividades voltadas às necessidades e aos interesses do aprendiz. | |
9) Você frequenta ambientes como bares, clubes recreativos ou desportivos, frequentados também por estrangeiros, onde você encontra ocasionalmente oportunidades de confraternizar com essas pessoas em inglês. Uma iniciativa desse tipo muito interessante, por exemplo, é a do Finnegan’s Pub, um bar na cidade de São Paulo frequentado por estrangeiros falantes nativas de inglês e brasileiros também falantes de inglês que reúnem-se informalmente. | |
10) Você é autodidata e se dedica, com muito esforço e força de vontade, à prática de escutar músicas, ouvir gravações, assistir filmes, e à leitura de textos, tudo em inglês. Exemplo de material útil: o site Voice of America Special English (com textos e arquivos MP3 que podem ser baixados gratuitamente, além do canal de videos YouTubeVOA), o site BBC Learning English, o site do British Council denominado Listening Downloads, o site ESL Pod, ou a rev |
Schütz, Ricardo. “O que significa aprender ingles”. English Made in Brazil <http://www.sk.com.br/sk-ling.html>. Online. 20 de dezembro de 2012
COMENTÁRIO
“Assim como você pode ser um bom motorista sem saber qual é a diferença entre um motor diesel e outro a gasolina, assim como conseguimos nos expressar bem em português sem sabermos o que é uma oração subordinada, você pode também aprender a falar línguas estrangeiras sem ter que estudá-las. “
Sobre essa afirmação, minha opinião é a seguinte: se o motorista souber a diferença pode se livrar de muitos apertos e ter mais consciência de sua profissão e fazer com que a sua atividade seja menos mecânica e mais eficaz. Quanto ao segundo caso há controvérsias: nós não somos robôs ou papagaios para repetir expressões usadas pelos outros. Será que alguém consegue redigir um texto sem erros se não possuir conhecimentos gramaticais? Ou em determinadas situações será que as pessoas aceitarão textos com linguagem usada em conversas informais na Internet como kd, pq ou vc?
Concordo que no início da vida as crianças deveriam ser leiturizadas e não alfabetizadas, como diria o professor francês Jean Foucambert (Instituto Nacional de Pesquisa Pedagógica). Mas após um certo tempo é importante conhecer a estrutura da língua. É preciso fugir ao velho padrão de ensino, procurando descobrir como a língua funciona em situações reais de uso, aprimorando a compreensão com leitura. Não apenas aprender a definir em um texto as palavras que são substantivo ou verbo, mas entendendo qual é a função de cada uma delas no contexto. Ampliar o conhecimento da classificação das palavras, de sua análise sintática, para ver como elas funcionam na construçãodo e texto. Ou seja, deve ser mudada a forma de ensino, mas não se abandonar a gramática.