Se você é fã de histórias em quadrinhos e gosta de treinar seu inglês lendo revistas neste idioma vá à plataforma ComiXology (www.comixology.com) e adquira o exemplar número 13 da Superman, nas bancas dos Estados Unidos desde o dia 23 passado. Como o site do jornal americano USA Today tinha antecipado no dia anterior, a edição traz uma mudança radical na vida do jornalista Clark Kent, o alto ego do Superman, que deixou o The Daily Planet (Planeta Diário) para ser blogueiro.
Kent justifica o pedido de demissão afirmando estar decepcionado com o rumo tomado pelo jornalismo, que está se tornando apenas entretenimento. Para não ficar desempregado, pois mesmo sendo o Superman precisa trabalhar para sobreviver, ele passará a fazer jornalismo digital, trabalhando de forma mais independente, sem precisar aturar as perseguições de seu editor Perry White.
Em algumas imagens da nova edição, Clark Kent tem uma discussão com outro funcionário do jornal ao saber que um conglomerado multimídia assumiu o controle do Planeta Diário, impondo uma linha editorial que vai contra os princípios do herói. Kent reclama que é jornalista há cinco anos e não pode ser considerado maluco porque acredita que o jornal deve ser sobre notícias. O colega comenta que ele deve “pegar leve porque os tempos estão mudando e o impresso é um meio que está morrendo”.
FICÇÃO OU REALIDADE?
Essa novidade no mundo dos quadrinhos deve servir para mais uma reflexão sobre a crise do jornal impresso. Ela se adequa bem à realidade não apenas dos Estados Unidos, mas de todo mundo. É uma crítica dura aos gestores dos jornais e aos jornalistas a seu serviço que abrem mão dos valores do jornalismo. Essa mudança, como informa a própria DC Comics, “é um reflexo dos problemas por que passa esta profissão agora, o papel dos meios de comunicação, o desequilíbrio entre informação e entretenimento.”
Não se trata de ficção, a realidade é que para enfrentar a Internet o jornalismo está virando mesmo entretenimento, perdendo a sua essência de bem informar em nome dos interesses comerciais, em querer apenas o retorno financeiro. No entanto, o que se constata é uma grande crise nas empresas que está levando a mudanças constantes até na direção, sua venda para outras corporações ou ao fechamento de importantes jornais.
Na Bahia, a coisa não é diferente. Essa tendência de transformar o jornalismo em entretenimento foi adotada por gestores sem muita qualificação e experiência, e os reflexos estão na queda acentuada na venda nas bancas ou mesmo nas assinaturas. A alternativa de lançar jornal popular para atingir outras camadas sociais não dá resultado. Afinal o leitor não é bobo e sabe a qualidade do produto que está comprando e busca outras alternativas para ter uma boa informação.
O que se vê hoje nos jornais, e nos sites destes jornais, são informações importantes perdendo espaço para assuntos banais, fofocas sobre astros do cinema e da tevê. Mesmo os assuntos mais importantes não têm o tratamento jornalístico merecido, sem uma análise mais profunda e muitos aspectos importantes da notícia serem omitidos para “agradar ao leitor”, repetindo conceitos que nem sempre são verdadeiros. Por exemplo, para que citar os defeitos de Neymar, os deslizes que ele comete em sua função, se o que vende é a sua imagem de excelente jogador?