Talento movido a sonhos e aventuras
Cantora canadense com milhares de seguidores no Youtube volta ao Brasil e fala de seu sucesso ao English Connection
Quem é artista sabe que o caminho até o sucesso é árduo: anos e anos melhorando a voz e participando de empreendimentos pouco lucrativos até atingir o objetivo. As novas gerações, no entanto, têm uma aliada importante para encurtar esse caminho. A internet vem abrindo as portas para muita gente, causando uma revolução na música. Para os artistas menores, a chance de aparecer ficou cada vez maior com o desenvolvimento de redes sociais repletas de recursos.
Nesta enxurrada de candidatos ao estrelato podem ser filtrados muitos talentos, como a jovem canadense Jessica Allossery. Ela ainda está longe do estágio de sucesso de seu conterrâneo famoso Justin Bieber. Mas já é reconhecida por seu trabalho como cantora e compositora no Youtube, alcançando sucesso através de seus vídeos, com uma legião de fãs em várias partes do mundo. Como ocorre no Brasil, uma espécie de segunda casa dessa artista de 24 anos. Não sem motivos: ela viveu em Minas Gerais durante um ano, em 2007, e foi aqui que aprendeu a falar o idioma português e sentiu o gostinho de cantar pela primeira vez para uma plateia.
Desde aquela “estreia” ela viveu outras experiências. Retornou ao Canadá para cursar faculdade. Amadureceu e seu sucesso ultrapassou as barreiras virtuais. Oito anos depois, numa época em que já se respira o Carnaval em várias partes do Brasil, ela está de volta para apresentações em Curitiba, Sorocaba, São Paulo, Jundiaí, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Salvador e Manaus, mostrando um repertório variado ao lado de músicos brasileiros, com composições de sua autoria mescladas com outras de nosso país. Tudo isso sem patrocinadores, apenas com muita força de vontade e criatividade para superar as dificuldades, como conta nesta entrevista. Sem perder o embalo, pois conhece os obstáculos da carreira. E sem perder o ritmo, pois assimila a nossa língua.
Em meio à agitação das apresentações da longa turnê pelo país, Jessica encontrou um tempinho para atender, com a maior boa vontade, à equipe do English Connection e falar não somente deste retorno ao país, mas de outras experiências pessoais. Aventuras, melhor dizendo, pois como costuma falar para seus seguidores, ela não seria hoje a pessoa inquieta que é sem as viagens e seus constantes desafios. Então, entusiastas do English Connection, embarquem nesta aventura a partir de agora porque ela é longa como as experiências de Jessica Allossery. Além deste post, confira a entrevista com a cantora canadense, além de fotos e vídeo, com direito a uma mensagem para vocês.
MUNDO ATRAVÉS DA ARTE
A biografia de Jessica Allossery mostra que seu sucesso não vem à toa, é resultado de muito talento, trabalho e persistência, ainda que, em alguns momentos, ela tenha saído desse caminho para encarar outros desafios, como os estudos, outra paixão. Tudo de maneira precoce.
Ela conta que, aos seis anos, enquanto vivia na fazenda de sua família, em Ontário, no Canadá, começou sua carreira musical com o piano. Frequentava as aulas na casa de seu vizinho e passava o verão vendendo milho doce com suas irmãs para os moradores ao lado da estrada. Ela perdeu o interesse pelo piano quando entrou no ensino médio e foi convencida que sua carreira musical ficaria escondida embaixo do chuveiro, cantarolando coisas antigas.
Após terminar o ensino médio, ela veio fazer intercâmbio no Brasil, na mineira Bom Despacho, segundo suas palavras “uma pequena cidade entre fazendas e estradas montanhosas verdes”. Confessa que essa experiência abriu seus olhos para a realidade e oportunidades do mundo e acabou sendo contaminada pelo “bichinho” das viagens. Um ano depois, em 2008, retornou ao Canadá, matriculando-se na faculdade de cinema para seguir o sonho de fazer um documentário mostrando ao mundo o que ela via através das lentes de uma câmera.
Como não havia televisão em sua casa, a única coisa que teve para ocupar seu tempo foi a internet, principalmente no YouTube. Ela se deparou com músicas covers e sentiu-se inspirada a aprender violão sozinha. Aprendeu, com a ajuda dos tutoriais que encontrou e com rigorosa prática, chegando a tocar três horas por dia. Começou a escrever suas próprias músicas em poucos meses. Ganhou milhares de seguidores e milhões de visualizações em seu canal no Youtube. Um público de jovens e velhos, ressalta.
Lançou seu primeiro EP, “Learn”, em 2010: poético e imaginativo. Uma das canções, “Change the World”, chamou a atenção de uma empresa de telecomunicações canadense e de outras partes do mundo, sendo aproveitada até em campanha filantrópica de publicidade. Em 2012 lançou seu primeiro álbum, “Apple of my Eye”.
Depois de passar dois anos na faculdade, ela decidiu ver o mundo novamente e viajou para a África do Sul para trabalhar por um período de poucos meses. Em setembro de 2010, voltou novamente ao Canadá, para estudar cinema avançado.
Hope is the thing with feathers that perches in the soul and sings the tune without the words and never stops at all” (“A esperança é aquela coisa com penas, que pousa na alma, e canta a melodia sem palavras, e nunca para.”) – Emily Dickinson
Atualmente, continua a utilizar o Youtube e ampliar seu círculo de amizades em seu blog na Internet onde compartilha suas experiências.
“Minha alma foi despertada por viagens e aventuras e eu não seria a pessoa curiosa que sou hoje sem isso. Espero inspirar as pessoas a sonhar mais longe do que qualquer estrela e ajudar a tornar o mundo melhor. Eu estou sempre ajudando a criar um mundo melhor através da música e do cinema e espero que a minha a arte as inspire muito”, diz.
Confira a entrevista:
ENTREVISTA:
JESSICA ALLOSSERY
“Quero continuar a ser artista do Youtube”
ENGLISH CONNECTION – Você está retornando ao Brasil em uma longa turnê por cidades de todas regiões brasileiras. Pela ordem, são shows em Curitiba, no Sul; Sorocaba, São Paulo, Jundiaí, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, no Sudeste; Brasília, no Centro-Oeste; Salvador, no Nordeste; e Manaus, no Norte. Depois de ter morado um ano em Minas Gerais, em 2007, como está sendo este reencontro com o povo brasileiro, com os fãs que você conquistou nos últimos anos, sobretudo na internet?
JESSICA ALLOSSERY – Eu estou sendo muito bem recebida aqui, no Brasil, em minha volta. O povo brasileiro está curtindo demais a minha turnê e até me ajudando a achar lugares para tocar em algumas cidades. É muito legal conhecer fãs com quem eu já vinha interagindo (na Internet) há mais de quatro anos. É surreal!
EC – Quais são as canções que você inclui nas apresentações? Parece que muitas delas são de sua autoria. Existe alguma música brasileira?
JA – Eu canto algumas canções próprias e algumas originais. Depende de cada show, mas, pelo menos, toco essas músicas próprias: Chang the World, Love Parade, Abc’s, Let my Heart Out, Keep on Moving. Covers: Ho Hey, Boa Sorte, The Scientist, Fico Assim Sem Você e Stay With Me.
EC – Como é a experiência de uma cantora canadense, norte-americana, com músicas de raízes do Brasil? Falar bem o português ajuda a entender melhor músicos que participam de suas apresentações, como os da banda Monoclub, que têm como universo o folk brasileiro, mesclando raízes da música caipira de Almir Satter e Renato Teixeira? Bem verdade que a Monoclub tem influências do country americano…
JA – Eu adoro musica de raízes do Brasil. É bem legal escutar música antiga, com aquele estilo bem gostoso que todo mundo conhece. Música de raízes me deixa com vontade de ficar no Brasil um tempão para conhecer mais a história do país. A banda Monoclub tem influências de folk americano/europeu mesmo. Tem instrumentos únicos, toca covers novos, músicas próprias e músicas de raízes também. É superlegal assistir a um show deles e melhor ainda é tocar com eles.
EC – Você vinha planejando esta turnê há um bom tempo. Porque ela demorou tanto em sair, faltavam patrocinadores ou você ainda não se sentia amadurecida suficientemente para se apresentar no país onde cantou pela primeira vez?
JA – Para esta turnê, na verdade, não consegui patrocinadores. Eu fiz tudo na minha conta, por isso demorei a chegar. Mas já valeu a pena bastante! Já toquei em quatro cidades (em Curitiba, Sorocaba, São Paulo e Jundiaí, na ocasião da entrevista, em 9 de fevereiro) e isso está mudando minha vida completamente. Fazer turnê é uma delícia, e poder conhecer meus fãs aqui, depois de tantos anos, é muito legal mesmo. Também demorei, assim como você falou, porque não sabia se eu poderia fazer successo aqui. Era dificil saber se meus fãs iriam me apoiar e assistir a meus shows ao vivo, mas tudo deu certo e todo mundo está me apoiando demais! Até quase vendi todos meus CDs.
EC – O que mudou naquela garota canadense de 17 anos que morou um ano no Brasil? Quando você se profissionalizou? Como você se define como profissional?
JA – Mudei quando virei trabalhadora de música mesmo! Todo dia eu faço alguma coisa pra divulgar um vídeo, mandando mensagens ao meus fãs, e bem mais! Eu sempre faço coisas pra ficar ligada no pessoal brasileiro porque sou muito apreciada aqui e quero dar umas coisinhas de volta. Eu me defini como profissional desde quando comecei a saber que queria ser artista mesmo… Porque agora o bicho pegou! Não tem como eu fazer outro trabalho, eu quero ser uma artista. Eu quero tocar e conhecer meus fãs. Eu quero fazer música! Isso que está me chamando. E isso é que preciso fazer!
EC – No Brasil e no Canadá, como em muitos outros países, a carreira é muito difícil, não depende apenas de talento para atingir e manter o sucesso. Você se sente recompensada, quais são os seus planos como cantora e compositora?
JA – Por enquanto, não sei pra onde estou andando… Somente sei que tudo está dando certo aqui, estou aproveitanto bastante, e minha turnê está indo bem melhor do que eu achava. Nem tinha expectativas antes de chegar, porque, verdade, não sabia mesmo o que minha turnê seria… Mas, também, estou sentindo que os brasileiros aproveitam bastante som ao vivo, mais do que no Canadá. Para mim, aqui é mais fácil achar lugares pra tocar em minha turnê do que no Canadá. Mais ainda, essa turnê, agora, é minha primeira turnê mesmo. Nunca fiz alguma coisa assim, nem no Canadá. Já estou querendo virar uma cantora de turnê. Sempre viajando e conhecendo. É tão gostoso!
EC – E onde entra a internet nestes planos? Existe algum projeto voltado para sua carreira, já que a maioria de seus fãs vem das mídias sociais, curte demais os seus vídeos? Você aprendeu muita coisa, inclusive a tocar guitarra através de tutoriais e publicou seus primeiros covers no Youtube.
JA – Bom, contei com ajuda para essa turnê, uma plataforma que chama Patreon. É um website de crowdfunding que ajuda artistas a ser artistas mesmo, a poder focar no trabalho deles, em sempre fazer novo conteúdo (vídeos/músicas/discos). É um site muito legal. Eu peço $1 de cada um de meus fãs por mês. Se eu conseguisse dois mil fãs já poderia deixar meu trabalho de garçonete e fazer música todo dia, em vez de ter outro trabalho pra sobreviver. Com o Patreon poderia fazer mais turnês, não somente no Brasil, mas no mundo inteiro. Isso dá uma esperança para nós, músicos, de que um dia poderemos trabalhar como artistas mesmo.
Tive a oportunidade em cantar Boa Sorte com uma banda de amigos meus, num palco numa festa na fazenda, e foi tão bom que tive vontade de cantar mais! O público também gostou do meu sotaque.
EC – Sabemos que você gosta de registrar o que você vê nos países que visita. O que você viu de positivo e negativo no Brasil sobre o povo, a cultura, os costumes, a educação, a saúde, a segurança pública, os problemas sociais, etc? Você sente que o país melhorou em relação à época que você morou em Minas Gerais, em 2007?
JA – Primeiro preciso falar que eu amo a cultura brasileira. Pena que tem perigo e pobreza, mas a cultura é rica e isso é que é importante na vida. Eu não achei que o Brasil melhorou tanto, isso não. Tem mais coisas legais, tipo o wi-fi é mais comum, viajar de ônibus aqui é bem legal e até chique, para um preço bom, algumas cidades estão parecendo mais limpas e tal, mas parece que os preços de quase tudo subiram, menos o salário das pessoas. Isso é triste.
EC – Em site da internet existe a informação que você viveu numa fazenda em sua infância, e aos seis anos começou a sua carreira musical com piano, frequentando aulas na casa de uma vizinha enquanto vendia milho doce nas estradas nos verões. Fale sobre sua infância, ela foi difícil e isso teria diminuído seu interesse pela música na ocasião?
JA – Acho que o tanto que trabalhei quando era mais nova me fez uma trabalhadora mesmo. Eu sempre estou na internet organizando, trabalhando como garconete, filmando outras pessoas, até ajudando na fazenda. Trabalho faz bem pra saúde. Mas tem que encher a sua vida com trabalho que você gosta mesmo.
EC – O que motivou você a viver no Brasil por um ano após o ensino médio? Por que o interesse em viver com os nativos de língua portuguesa? Havia um projeto especial?
JA – Eu queria ter a experiência de intercâmbio. Na verdade, eu não escolhi o Brasil, mas o Brasil foi escolhido pra mim pelo Rotary. E acho que tudo foi acontecendo como tinha que ser, porque me apaixonei rapidamente pelo Brasil!
EC – Onde você morou mesmo, em Minas Gerais?
JA – Morei em Bom Despacho. Uma cidadezinha pequena com 44 mil habitantes. Cidade no interior, mas perto de Belo Horizonte.
EC – Foi no Brasil que você teve o gosto de cantar pela primeira vez em frente ao público e em português mesmo, não foi? Fale um pouco sobre essa experiência? Onde foi? Quais foram as músicas? Como foi a receptividade do público?
JA – Foi, sim! Tive a oportunidade em cantar Boa Sorte com uma banda de amigos meus, num palco numa festa na fazenda, e foi tão bom que tive vontade de cantar mais! O público também gostou do meu sotaque. Então, voltei para o Canadá e comecei a aprender a cantar e tocar violão.
EC – Ao voltar ao Canadá você se matriculou na faculdade para perseguir um novo sonho, o de um documentário para mostrar ao mundo o que você tem visto através da lente de uma câmera. Fale sobre essa experiência.
JA – Eu fiz faculdade de filmagem pra poder desenhar histórias com filmagem para as pessoas perto de mim. Eu tinha visto tantas coisas e experiências boas no meu intercâmbio e sabia que tinha que gravar esses lugares lindos pra mais pessoas poderem ver também.
EC – O ano de 2008 mudou a sua vida. Na Internet você tropeçou com covers de canções e começou a aprender guitarra, a praticar todos os dias no Youtube. Como foi isso?
JA – Comecei a gravar vídeos todo mês e coloquei no Youtube. Agora faço pelo menos dois por mês covers ou músicas próprias. Eu tenho que fazer bastante porque o Youtube é uma plataforma de advertisement de graça! Então não podia perder essa oportunidade! Aí eu gravei alguns covers que pegam fogo na internet e já estou com mais de cinco milhões de visualizações lindas!
EC – Você concluiu seu curso na faculdade? Tem visitado outros países? Quais são os seus planos atuais?
JA – Já terminei meu curso e decidi que gostaria de fazer música de qualquer jeito antes de filmagem. Mas com o Youtube achei um jeito de poder fazer os dois! Já fui à Africa do Sul algumas vezes e adorei – é muito parecida com o Brasil na verdade. O landscape (paisagem) é tudo. Agora meus planos são continuar assim, como artista do Youtube, planejar mais turnês no Brasil e em outros países. E vamos descobrir o que mais a vida tem pra mim! Estou na onda agora.
EC – Mande uma mensagem em português e inglês para os brasileiros.
JA – Olá, gente! Gostaria muito em conhecer vocês nos meus shows no Brasil. Eu estou convidando vocês, pessoalmente, a me ver ao vivo e me conhecer. Vamos trocar um abraço. Fiquei muito feliz em ter algum sucesso aqui porque o Brasil já pegou meu coração.
Hello, everyone! I would love to meet you at my shows in Brasil. I would like to invite you personally to come and see me perform live, and to meet me. Let’s hug it out! I’m so happy to be able to have a little bit of success here because Brasil really has my whole heart.
Entrevista concedida a Jean Vivas e Adroaldo Anunciação (English Connection).
Fotos: arquivo pessoal de Jessica Allossery e Josh Williams Photography

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