A novela Boogie Oogie está em seus últimos capítulos no horário das 18h25, na Rede Globo, e ainda existe muita gente não entendendo o seu significado ou fazendo confusão com o boogie-woogie, estilo de blues americano muito popular nos anos 30. Nada a ver, o termo boogie oogie se refere à onda da música Boogie Oogie Oogie, da banda californiana A Taste of Honey (1971-1982), que dominou as pistas de dança e as paradas de sucesso, vendendo dois milhões de cópias, em uma época de mudanças, de tendências marcantes na música, moda e estilo de vida, de efervescência e de alegria em que é ambientada a trama estrelada por Ísis Valverde, Giulia Gam, Bianca Bin, Alessandra Negrini e Marco Pigossi. Para facilitar a assimilação, o autor português Rui Vilhena resumiu o nome da novela para Boogie Oogie.
Na letra da canção da banda (assista ao vídeo no final do post) há frases como “…we’re gonna boogie oogie oogie/till you just can’t boogie no more…” (nós vamos fazer o boogie oogie oogie/ até você simplesmente não poder fazer mais o boogie…). Boogie é uma a palavra de origem desconhecida e teria sido usada pela primeira vez em 1928 pelo britânico Brian Rust, que trabalhou na BBC e é conhecido como o pai da moderna discografia, para expressar uma ocasião propícia para dançar o rock de forma forte. Como verbo, significa dançar rock ou pop music de forma rápida (dance to fast pop or rock music).
Em relação ao termo oogie, as referências também são poucas. De acordo com o Urban Dictionary, trata-se de algo repugnante, viscoso, grotesco (extremely gross or disgusting; attended to by unfavorable circumstances; icky, slimy, grotesque): “Ugh… that dried vomit sure is oogie!” (Aff, este vômito seco sem dúvidas é nojento!). Mas no contexto da música parece ter outro significado. Segundo nativos norte-americanos comentaram ao English Connection, oogie seria uma palavra criada apenas para rimar com boogie na canção de A Taste Of Honey.
Quem assiste pelo menos a alguns capítulos da novela percebe que a música dos anos 70 está muito presente no universo da trama. O autor Rui Vilhena e os diretores Ricardo Waddington e Mariozinho Rocha informam que fizeram um brainstorming de ideias e uma lista com canções que eles consideravam mais representativas da época, ícones dos anos 70 e da discothèque (disco music), gênero que teve suas raízes nos clubes de dança voltados para negros, latinos, gays e apreciadores de músicas psicodélicas, além de outras comunidades de Chicago, Nova Iorque e Filadélfia, sendo um movimento de liberdade de expressão contra a dominância do rock e a desvalorização da música dance da contracultura do período. Foi um gênero que surgiu com a fusão de elementos como soul, jazz, original funk e música latina.
O estilo é conhecido por ser o primeiro abraçado por casas de dança chamadas discotecas e clubes em várias partes do mundo. No Brasil, a telenovela Dancin’ Days, em 1978, teve como pano de fundo uma discoteca. O nome foi emprestado da boate do produtor musical Nelson Motta, a Frenetic Dancin’ Days Discothèque, que teria sido uma das casas de show a lançar a disco music no país. A disco music teve como principais representantes artistas como Donna Summer, Bee Gees, KC and the Sunshine Band, ABBA, Chic, A Taste of Honey e os irmãos The Jacksons. Nos anos 80 sofreu preconceito e teve uma queda de popularidade, quando o rock voltou às paradas. Mas continuou admirada no mundo e sobrevive até hoje, com várias outras denominações, influenciando artistas como Madonna. Mas não deve ser esquecido que a disco music rompeu barreiras étnicas e sexuais, virou febre, moldou a moda e transformou o comportamento de uma época, tomando as boates de brilhos e paetês.
Já o termo boogie-woogie, que causou a confusão relatada no início deste post, é um estilo de blues muito popular entre os negros nos anos 30 e 40 nos Estados Unidos. As bandas, em geral, tinham três pianos, violões e tocavam musica country e gospel em um estilo de guitarra próprio. Enquanto o blues tradicional fala sobre tristezas e amarguras, o boogie woogie é muito mais alegre e dançante. Os grandes nomes do estilo são Memphis Slim, Pete Johnson, Albert Ammons, Little Richard e Meade Lux Lewis, que compuseram conhecidas músicas do gênero, como 6th Avenue Express, Boogie Woogie Stomp, entre outras.
O ano de 78 foi marcado por significativas mudanças e novas tendências no mundo. No Brasil, foi promulgada a emenda constitucional que revogava o AI-5 da ditadura militar, iniciando a abertura política no país. Na cultura, foi uma época de efervescência. A cultura hippie dos anos 60 estava decadente e surgia um novo movimento norte-americano que empolgava os jovens: a era do disco, com a pegada da discothèque, ou disco music, que misturava soul, funk, groove e eletrônico e que tinha a banda Bee Gees e Donna Summer como alguns de seus maiores expoentes. A disco music ditava moda nas roupas, nos cortes de cabelo, nas gírias e no comportamento dos jovens.
A maioria de vocês não era nascida 37 anos atrás. Mas será que alguns de nossos entusiastas já ouviu falar alguma coisa do que é mostrado abaixo? E seus pais ou avós se lembram de alguma coisa que existia ou que vivenciou em 1978? Conte aqui, no final do post, sobre isso.
Donna Summer e Bee Gees incendeiam as noites brasileiras
- Donna Summer era o nome artístico de LaDonna Adrian Gaines, nascida em Boston, em 1948, e falecida em Nápoles, em 2012. Conhecida por suas gravações em estilo disco dos anos 70, recebeu o título de Rainha da Disco e, em 37 anos de carreira, estima-se que tenha vendido mais de 130 milhões de discos.
- “Night Fever” de os Bee Gees dominava as paradas de sucesso. Bee Gees foi uma banda do Reino Unido formada pelos irmãos Barry, Robin e Maurice Gibb (os dois últimos falecidos), de 1959 a 2003. É uma das que mais arrecadaram na história da música, considerados como a segunda maior da história pelo conjunto de sua obra (composições, produções e gravações), perdendo apenas para os Beatles. Vendeu mais de 250 milhões de discos.
John Travolta nos embalos de sábado
- Quando foi rodar “Saturday Night Fever” (1977), o ator e dançarino americano John Travolta (nascido em 1954) já atraía muitas fãs, mas sua popularidade cresceu ainda mais com o filme seguinte, o musical “Grease” (1978), coestrelado por Olivia Newton-John. Atualmente, continua fazendo filmes, principalmente de gêneros policial e suspense.
The Jacksons
- Ainda com Michael Jackson, que já se aventurava com sucesso na carreira solo, os irmãos Jacksons ( Jackie, Randy, Tito e Marlon) estouraram com “Shake Your Body (Down to the Ground)”, lançada como compacto no álbum “Destiny”, em dezembro de 1978.
ABBA nas paradas
- Impossível esquecer o grupo sueco ABBA. que inicialmente fazia um gênero romântico e também embarcou no fenômeno disco, com canções como “Dancing Queen”,”Money, Money, Money”, “Take a Chance on Me” e “Summer Night City”.
Love is in the air
- Este single se tornou o grande sucesso mundial do cantor escocês Paul Young em 1978, atingindo o número dois na parada australiana, sete na parada americana e cinco no Reino Unido.
Influência da discoteca
- As Frenéticas (Leiloca, Lidoka, Regina Chaves, Edye Duque, Dhu Moraes e Sandra Pêra) surgiram no auge das discotecas e fizeram sucesso com os hits “Perigosa” e “Dancin’ Days”. Até a roqueira Rita Lee, que teve canções gravadas pelas Frenéticas, mais tarde também gravaria canções no estilo.
- Lady Zu embalou as pistas com “A Noite Vai Chegar”, lançado no ano anterior e que capturava com inteligência a moda das discotecas da época. O sucesso lhe valeu o título de “Donna Summer brasileira”.
- Gretchen emplacou seu primeiro sucesso na carreira solo na era disco, “Dance With Me”, ganhando certificado de disco de ouro pela venda acima de 150 mil cópias.
Dama do lotação
- Pouca gente andou no transporte público chamado lotação, dos tempos de nossos avós, mas foi assistir ao longa de Neville D’Almeida, baseado no romance de Nelson Rodrigues. Especialmente para ver Sônia Braga no auge da beleza. Ela já fez sucesso naquele mesmo ano com a novela “Dancin’ Days”, que teve como pano de fundo a discoteca.
Pantera com estilo
- Farrah Fawcett lançou um corte de cabelo em 1978 que foi o mais copiado do mundo. Ela era atriz e modelo americana, um dos maiores símbolos sexuais femininos da década, com grande impacto sobre a geração adolescente. Foi casada com o ator Lee Majors (O Homem de Seis Milhões de Dólares) e fez o seriado Charlie’s Angels ( As Panteras). Morreu aos 62 anos, em 2009.
Moda
- As pessoas usavam calça cocota (Saint-Tropez), boca de sino, roupas coloridas, meias lurex e enrolavam o cabelo.
Vitrola e Vinil
- O disco de vinil a maioria ainda lembra, mas a vitrola tem mais tempo. Nos anos 70 as festinhas eram embaladas pelo aparelho. Você tinha que colocar a agulha em cima do disco para ele tocar.
Tostex
- Em algumas lanchonetes ainda existe esse aparelho que fazia sucesso entre os que gostavam de um sanduíche. Mas em muitos locais foi substituído por aparelhos elétricos.
Praia
- Além das discotecas badaladas, a praia era o principal ponto de encontro dos jovens.
Fliperama
- No auge, os pinballs com placar eletrônico foram introduzidos e surgiram novos jogadores a fim de desafiar a máquina que agora possuía voz, sons, placar eletrônico, design cool e outras inovações.
Fusca
- O modelo da Volkswagen ainda fazia sucesso, com algumas mudanças em 1978. Como o interruptor do pisca-alerta, transferido para a coluna de direção e a adoção de uma chave única para portas, capô do motor e ignição.
Futebol
- Foi o ano da Copa do Mundo na Argentina, conquistada pelos anfitriões. O Brasil foi terceiro e se autoproclamou “campeão moral”.
Futebol de botão
- FIFA, Winning Eleven, PES? Ninguém sonhava com isso. O legal era jogar em um campinho com botões com os nomes de jogadores como os do São Paulo.
Arte & Diagramação: Jean Vivas
BOOGIE OOGIE OOGIE
A Taste of Honey